Trinta anos de Democracia: Uma Reflexão

                                         Por Guilherme de Melo Costa - 
Guilherme de Melo
Técnico do Ministério Público de Santa Catarina

Nesta semana, completam-se 50 anos do golpe civil-militar que deu início ao período da ditadura, página infeliz da nossa história, que durou longos 21 anos.

Mas passados quase 30 anos da “redemocratização”, porque ainda se discute tanto este o assunto?Em primeiro lugar, como toda nossa história, os acontecimentos da ditadura precisam ser contados, para que nunca se repita o que aconteceu em nosso país.

Mas além disso, apesar da pretensa redemocratização, a nossa democracia ainda caminha a curtos passos, uma vez que ainda estamos longe de superar de fato os acontecimentos da ditadura.
    Ainda hoje, insistimos em erros iniciados naquele período, deixamos de corrigir injustiças praticadas pelo regime e, como consequência desta história não contada, ainda não responsabilizamos os agentes da ditadura.
Mas o que nós, nossa cidade e nosso estado tem a ver com isso?
De início, não se pode deixar de mencionar que uma das principais avenidas de nossa cidade presta uma homenagem ao presidente norte-americano que foi responsável pelo início da política que instigou e sustentou diversos golpes (civis-) militares na América Latina: John Kennedy.
   Antes de ser assassinado (em novembro/63), Kennedy já articulava a expansão do imperialismo norte-americano na América Latina – e o então presidente brasileiro João Goulart, posteriormente deposto pelo golpe de 64, era um de seus maiores problemas.
    Poucas semanas antes de sua morte, Kennedy questionou o embaixador americano no Brasil sobre a possibilidade uma intervenção militar, que veio a se concretizar – após sua morte – com o apoio americano.
   Além disso, nosso estado presta outras homenagens, no mínimo, contraditórias à democratização: Presidente Castelo Branco (Município catarinense e avenida em nossa cidade levam o nome do primeiro presidente do regime militar); Governador Ivo Silveira (uma das principais avenidas da parte continental de Florianópolis, que faz a ligação com nossa cidade, e também um colégio estadual na vizinha cidade de Palhoça, levam o nome do governador catarinense nomeado pelo regime militar); Colombo Salles (outro governador “biônico”, em cujo governo foi construída a ponte que leva seu nome); Prefeito Dib Cherem 
(outra importante rua que faz a ligação entre nossa cidade e a capital, leva o nome do Prefeito nomeado pelo regime).
    Como se não bastassem as homenagens, outros políticos nomeados pela ditadura ainda exercem grande influência (diretamente e através dos respectivos grupos familiares) no cenário político catarinense: Jorge Bornhausen, governador do estado entre 1978 e 1982; e Esperidião Amim, prefeito de Florianópolis entre 1975 e 1978.
    Em contradição, pouco (ou nada) se conhece sobre os catarinenses que se opuserem ao regime militar. O deputado estadual Paulo Stuart Wright - que teve seu mandato cassado pelo Ato Institucional nº 5, foi morto pelo regime e nunca teve seu corpo encontrado – é, talvez, o nome mais conhecido da resistência em nosso estado. Todavia, sua história ainda é pouco contada, até porque nem sequer se tem certeza sobre o que aconteceu.
     Assim, enquanto ditadores permanecem sendo homenageados e as vítimas destes não tem suas histórias contadas, não é feita justiça com nossa história, e a ditadura permanece viva.
     Que esta “Semana da Democracia” sirva para que possamos revisitar o período da ditadura militar, aprender com o nosso passado e, finalmente, superar nossa história.

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