Battisti (PT) explica motivos da sua candidatura e apresenta propostas
A sua candidatura acabou sendo uma
surpresa, porque em convenção o então pré-candidato Círio Vandressen afirmou
que o PT não teria condições para lançar candidato, como você avalia essa
situação?
Battisti
– O nome dele havia sido aprovado por unanimidade do partido na Plenária
do dia 21 de julho. No dia 4 de agosto, penúltimo dia do prazo para definição
dos candidatos, sem nenhuma justificativa plausível ele retirou a candidatura
alegando cansaço e problemas familiares. A partir daí começamos a
perceber do que se tratava. Como estaria cansado se afirmava que era candidato
a prefeito durante quatro meses seguidos? Percebemos que a intenção dele era
que o PT não disputasse a prefeitura, assim, ficaria livre para apoiar o
candidato do PMDB, partido que articulou o golpe contra a presidente Dilma.
Queria ainda dar nossa legenda para eleger candidatos do PP. Só percebemos isso
no dia seguinte, dia 5 de agosto, último dia para aprovação dos nomes dos
candidatos a vereadores e prefeito. Concluímos que se tratava de um
esquema de negociata de apoio político. Decidimos denunciar esse golpe espúrio à
direção estadual do PT. Declinei da minha candidatura a vereador e meu nome foi
aprovado como candidato a prefeito. Ele acabou se desfiliando do partido dias
depois. A vida segue e o desafio do PT é resgatar a tradição de fazer
política de outro jeito, valorizando a militância, sem vínculos ou dependência
com o poder econômico.
O PT tem um histórico de militância forte
no município, sempre elegendo vereadores, nesta eleição vereadores eleitos como
Chico Silvy, acabaram não se candidatando, o que houve com o partido no
município?
Battisti
– Cabe ao vereador do PT Chico Silvy explicar os motivos da sua decepção.
Disputamos eleições em São José desde 1982, sempre tendo candidatura própria e
a exceção foi no ano de 2012. Estamos trabalhando para manter nosso espaço na
Câmara. A perda deste espaço será negativa não só para o PT, mas para
categorias de trabalhadores que sempre contaram com nosso apoio para
fiscalização dos atos do Poder Executivo e para as mobilizações das comunidades
por seus direitos. As medidas negativas contra a classe trabalhadora já são
anunciadas a nível federal. Vejam a negociação salarial dos trabalhadores dos
Correios e os bancários. Essas medidas tendem a se reproduzir no município com
políticas de retrocessos. Faço ainda um alerta: aguardem para o início do
próximo ano o tarifaço na taxa de recolhimento do lixo, a cobrança da chamada
Zona Azul nos bairros que mesclam áreas comerciais e residenciais, o caos na
saúde pública.
Caso eleito, como governar com uma câmara
heterogênea, que provavelmente terá muitos vereadores de oposição?
Battisti
– Nem pensei nisto. Mas se acontecer, vou governar com o povo. Vou rever
contratos e abrir em praça pública as contas da prefeitura. Entretanto, pelo
que tenho visto existem candidaturas a vereador com mais estrutura que
candidatos a prefeitos. Esta será a Câmara (a ser eleita) mais conservadora e
sem representação popular dos últimos tempos em São José. O curto espaço
para fazer campanha só ajuda quem tem dinheiro e está no poder. O candidato com
propostas não tem tempo suficiente para percorrer todos os bairros e apresentar
seus compromissos. Quem tem dinheiro paga um batalhão com bandeiras, que já
servem como votantes natos. Estamos regredindo em termos de consciência e
coerência. Além disso, a desinformação da população chega a ser absurda. Como candidato
escuto nas ruas uma frase que me incomoda: “todos são iguais”. Acho que é um
argumento acanhado de alguns, para mais à frente se sentir à vontade para pedir
ou receber vantagens. Seguindo essa linha despolitizada, amanhã o infrator vai
dizer que rouba porque acha que todos roubam.
Essa foi uma eleição atípica, tanto por
causa das regras, quanto pelo período conturbado que o país vive, como você
avalia essa situação?
Battisti
– Essa eleição é municipal, onde os problemas da cidade e as respectivas
soluções devem ser priorizadas. Estamos fazendo isso, apresentando propostas em
favor do povo. Em São José temos mais um fator prejudicial em que o eleitor
assiste pela TV as propostas e os candidatos da cidade de Florianópolis.
Debates foram poucos e quando ocorreram quem não tem proposta não comparece e
ainda fica na vantagem. É uma campanha onde o eleitor está descrente, todavia
deveria buscar saber se os atuais problemas são de agora ou vem de antes. Se
vier de antes e são antigos, onde foram parar os compromissos daqueles que
foram eleitos em 2012? Considerando que o candidato deve ser coerente e ter
compromisso com a comunidade, o eleitor, por sua vez, também deve ter mais
consciência ainda. O político só se elege com o voto do povo, sendo assim,
porque os mesmos sempre se elegem?
Na última eleição São José teve apenas uma
candidatura com um caráter mais socialista, PSOL, não havia possibilidade de
unir forças?
Battisti
– Nestas eleições, objetivamente, há fatores que exigiriam mais unidade da
esquerda. É um erro só pensar eleitoralmente em um momento de ataques aos
direitos sociais, de ataque ao pensamento de esquerda como um tudo, inclusive em
nível de América Latina. Assim como é um erro setores da esquerda,
inclusive meu partido, fazerem alianças com os partidos que integraram o golpe
institucional. Enquanto as eleições acontecem, medidas de retrocessos sociais
estão sendo discutidas no Congresso Nacional, a exemplo da PEC 241 que congela
e limita o reajuste dos investimos em saúde e educação por até 20 anos. Ou
então a recente Medida Provisória que reforma o ensino médio às pressas, o que
trará ainda mais redução na qualidade do ensino público, servindo de barreira
para que setores empobrecidos acessem a universidade. Sem falar da reforma da
previdência, das privatizações, da flexibilização dos direitos trabalhistas, da
ampliação das contratações de mão de obra terceirizadas para atividades fins do
comércio e das indústrias. Os motivos para justificar e buscar a unidade da
esquerda ou daqueles partidos que têm compromissos com a distribuição de renda e
com uma sociedade igualitária estão aí. Tanto é assim, que unificamos nas ruas
e na luta, mas estamos em caminhos distintos no campo eleitoral. Uma
contradição que o tempo se encarregará de demonstrar que o perdedor será o povo
pobre e excluído.
Considerações?
Battisti
– Tenho uma avaliação não muito positiva dessas eleições. Principalmente
por ver a chamada grande mídia dar sua contribuição para que nada mude, onde o
ganhador é o capital financeiro internacional. Vejo perda de espaços
significativos no campo da esquerda e daqueles que defendem a democracia. Ao
mesmo tempo, vejo um campo promissor para a retomada da luta dos trabalhadores,
seja para não perder direitos, seja para enfrentar a onda.
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